Como trabalhar o desenho em sala de aula? Quais materiais utilizar? Como criar motivações para o desenho?Analisando o percurso do homem no mundo, verificamos que este desde sempre teve necessidade de exteriorizar e comunicar o que sente e pensa.O percurso de vida e evolução dos indivíduos e das culturas projeta-se em fatos, obras, objetos, marcas que são registradas e permanecem materializadas sob diversas formas.O fascínio que sentimos perante obras artísticas, como uma pintura rupestre, uma máscara africana, uma música tribal, uma sinfonia de Beethoven, um quadro de Picasso, etc., faz-nos pensar acerca do que estará no cerne destas obras para provocarem tal efeito.Diz-se que só o homem possui este fascínio e capacidade de admiração perante os fenômenos e fatos estéticos e que, portanto os "persegue", procurando exprimir-se de "forma elevada" através da arte. À arte estão associadas metodologias, técnicas, instrumentos e suportes que foram evoluindo através dos tempos.Na base das artes visuais está o mecanismo da visão, o cérebro e as mãos.É com a mão que fazemos os gestos de desenhar, pintar, esculpir, etc. Os instrumentos surgem então como objetos que fazem o prolongamento das mãos, facilitando a expressão das ideias. Manipulados pelo homem, os instrumentos fazem o registro das ideias, materializando visualmente o pensamento. Os materiais e suportes estão na base deste processo, pois são transformados através de instrumentos de acordo com metodologias e técnicas ao serviço das ideias criadoras. Os instrumentos artísticos vão desde o lápis ao computador, passando por uma infinidade de objetos que estão preparados para riscar, pintar, cortar, soldar, de acordo com os materiais e suportes a trabalhar. Os materiais associados às artes visuais são variadíssimos e vão desde os ligados ao domínio bidimensional do desenho e pintura, como riscadores, tintas, solventes, etc., aos ligados às técnicas de impressão como madeiras e suportes variados – papéis, telas, acrílicos, vidros e outros, assim como os associados ao domínio tridimensional – barro, gesso, metais, madeira, etc.É preciso fazer o aluno sentir “fé na arte” (Amilcar de Castro) e isso começa com dedicação aos estudos. Atrelados ao desenho vêm as leituras, a feitura de textos, enfim, teoria e prática, ler/fazer, não necessariamente nessa ordem, sem separação entre ambos, sem anulação de um ou de outro.O ensino do desenho visa a desenvolver nos adolescentes o hábito da observação, o espírito de análise, o gosto pela precisão, fornecendo-lhes meios de traduzirem as idéias, de predispô-los para as tarefas da vida prática. Concorrerá também, para dar a todos melhor compreensão do mundo das formas que nos cerca, do que resultará necessariamente, uma identificação maior com ele. Mas, por outro lado, tem por fim reavivar a pureza de imaginação, o dom de criar, o lirismo – próprios da infância – qualidades, geralmente amortecidas quando se ingressa no curso secundário, e isto, tanto devido à orientação defeituosa do ensino do desenho no curso primário, como devido mesmo à crise da idade, porque, então, esses novos adolescentes, atormentados pelas críticas inoportunas e inábeis dos mais velhos, já perderam a confiança neles mesmos e naquele seu mundo imaginário, onde tudo era possível e tinha explicação: sentem-se inseguros, acham os desenhos que fazem ridículos, tem medo de “errar”.Dessa diversidade de objetivos resultam modalidades diferentes de desenho, o que se poderia resumir, para maior clareza, da seguinte maneira:1. Para o inventor quando concebe e deseja construir – o desenho como meio de fazer, ou desenho técnico;2. Para o curioso quando observa e deseja registrar – o desenho como documento, ou desenho de observação; 3. Para o ilustrador quando imagina uma coisa ou uma ação e deseja figurá-la – o desenho como comentário ou desenho de ilustração;4. Para o decorador quando inventa e combina arabescos – o desenho como jogo e devaneio, ou desenho de ornamentação;8. Para o sentimento quando se toca; para a imaginação quando se solta; para a inteligência quando “bola” a coisa ou está diante dela e deseja penetrar-lhe o âmago e significar, o desenho como meio de expressão plástica, ou desenho de criação.O ensino do desenho, no curso secundário, deve ser, pois, orientado simultaneamente nestas três direções distintas: a. Para o artista quando, motivado, utiliza em maior ou menor grau, essas diferentes modalidades de desenho, visando realizar obra plástica autônoma e expressar-se – o desenho como arte, ou desenho de criação. b. Para a inteligência quando concebe e deseja construir, o desenho como meio de fazer, ou desenho técnico; c. Para curiosidade quando observa e deseja registrar – o desenho como documento, ou desenho de observação; e é imprescindível que as crianças apreendam, logo de início, essa diferenciação fundamental. Nesse sentido, deseja-se que o próprio programa forneça ao professor os meios de esclarecer convenientemente os alunos, ilustrando cada uma das modalidades de desenho acima indicadas, como exemplos apropriados. Ou seja, esquematizando ainda mais para facilitar a aplicação didática.E seria bom o professor fazer, nesse sentido, um apelo ao aluno para que não encare o desenho como uma porta fechada, mas, pelo contrário, como uma abertura que o predisponha a intuir, num simples traço ou numa elaborada e complexa obra, a presença dessa coisa misteriosa chamada ARTE.